'Parte de mim foi embora', diz irmã de guarda morto a pauladas por adolescente em Ipojuca
05/07/2025
(Foto: Reprodução) Guarda municipal foi espancado por adolescente três meses após abordá-lo por pilotar moto sem capacete; irmã relata dor e busca por recomeço. 'Parte de mim foi embora', diz irmã de guarda morto a pauladas por adolescente em Ipojuca
"Com certeza uma parte de mim foi embora. Eu preciso mudar tudo, mudar de vida, trazer minha mãe para mais perto de mim, preciso me tornar uma nova pessoa para conseguir comemorar as datas de aniversário sem a presença dele".
A fala é da enfermeira Bárbara Cristina de Medeiros Alves, irmã do guarda de trânsito Carlos Henrique de Medeiros Alves, de 45 anos (veja vídeo acima). Ele morreu após ser espancado a pauladas por um adolescente num posto de gasolina em Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco. Três meses antes, o menor de idade brigou com o servidor público durante uma abordagem.
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Carlos Henrique trabalhava há 14 anos na Guarda Municipal de Ipojuca. Ele estava de folga na quarta-feira (2) quando foi agredido a pauladas por um adolescente de 17 anos, que não teve o nome divulgado em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade, de onde foi transferido para o Hospital da Restauração, no Centro do Recife. Ele morreu às 22h30 da quinta-feira (3).
Segundo a irmã do guarda, foi a primeira vez que o servidor público teve que lidar com algum tipo de violência no trabalho. E mesmo depois de ter sido agredido pelo adolescente três meses antes, o agente não se queixou de qualquer ameaça.
"Sempre foi assim 'se errou, a gente segura e chama a polícia'. Não teve nenhum comentário. Normalmente, ele trabalhava em blitze, reposicionamento de locais de festas, fechava e abria vias, mas nunca ouvi nada a mais que isso", contou a enfermeira.
Carlos Henrique de Medeiros Alves, guarda de trânsito de Ipojuca que foi espancado por adolescente em posto de combustíveis
Reprodução/WhatsApp
Bárbara também disse que era muito próxima do irmão, e que ele fazia questão de estar presente na vida da família em todos os momentos.
"Ele não esquecia nenhuma data de aniversário, a gente tinha que comemorar, mesmo se caísse no meio da semana. Ele não me deixava em nada, em nenhum momento. [...] Eu fui [ao hospital], visitei, orei, estimulei, eu disse 'volte, sem você eu não sou nada'. Eu cheguei a dizer 'eu dou tudo o que eu tenho para te ver aqui, porque se você não estiver, metade de mim já foi'", afirmou.
Colegas
Vídeo mostra guarda brigando com adolescente em abordagem três meses antes de ser morto
Carlos Henrique é descrito pelos colegas de profissão como um homem íntegro, honesto e extremamente profissional. O g1 apurou que, na primeira vez que foi agredido pelo adolescente, o guarda abordou o jovem após flagrar o menor de idade pilotando, sem capacete, uma moto que seria roubada.
A abordagem foi foi filmada por uma câmera de segurança. De acordo com o presidente do Sindicato dos Guardas Municipais (Sindguardas) de Ipojuca, Anselmo Ferreira, o jovem tinha estacionado a moto em local irregular, em frente à Autarquia Municipal de Trânsito e Transportes da cidade.
"O agente, por obrigação, ao perceber o ato irregular, foi até o menor. Ao abordá-lo e solicitar as documentações de praxe, o adolescente ficou exaltado e, após a atitude do agente ao informar que ele seria autuado e teria o veículo apreendido, ele se exaltou a ponto de agredir o agente, que tentou resguardar sua segurança e conter o menor", declarou o presidente.
O caso
Guarda de trânsito é agredido a pauladas em posto de combustíveis na BR-101
Carlos Henrique de Medeiros Alves estava de folga quando foi agredido em um posto de gasolina localizado às margens da BR-101, na quarta (2). Imagens de uma câmera de segurança mostram o momento em que o jovem de 17 anos se aproximou do guarda, que estava sentado atrás de um carro, e começou a bater nele várias vezes com um pedaço de pau (veja vídeo acima).
No mesmo dia, o adolescente foi aprendido pela Polícia Civil, que investiga a motivação do espancamento. Após a apreensão, o jovem foi levado para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife.
De acordo com a prefeitura de Ipojuca, Carlos Henrique foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade, onde foi atendido na Sala Vermelha. Depois, foi transferido para o Hospital da Restauração, no Centro do Recife. Ele morreu às 22h30 da quinta-feira (3).
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